quarta-feira, 8 de julho de 2009

Basta mudar um pouco as palavras

Editorial de “O Globo” do dia 02 de abril de 1964:

“Ressurge a Democracia”

Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil [Honduras] livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.

Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.

Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo [e ao chavismo].

Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.

Salvos da comunização [chavinização] que celeremente se preparava, os brasileiros [hondurenhos] devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.

As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.”

No momento em que o Sr. João Goulart [Manuel Zelaya] ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube [tentativa de convocar um referendo para uma nova constituinte], vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.

Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos [chavistas] que haviam envolvido o Executivo Federal.

Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira [hondurenha], pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil [Honduras] que estava em jogo.

A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.

Se os banidos, para intrigarem os brasileiros [hondurenhos] com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil [Honduras] uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro [hondurenho] foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.”

quinta-feira, 2 de julho de 2009

FIFA e Associação Dinamarquesa de Futebol perdem o Simancol

Fifa repreende comemoração religiosa do Brasil na África
Queixa é de que a seleção brasileira estaria usando o futebol como palco para a religião; entidade pede moderação aos jogadores

RIO DE JANEIRO - A comemoração do Brasil pelo título da Copa das Confederações, na África do Sul, e o comportamento dos jogadores após a vitória sobre os Estados Unidos causaram polêmica na Europa. A queixa é de que a seleção estaria usando o futebol como palco para a religião.

A Fifa confirmou à Agência Estado que mandou um alerta à CBF pedindo moderação na atitude dos jogadores mais religiosos, mas indicou que por enquanto não puniria os atletas, já que a manifestação ocorreu após o apito final.

Ao final do jogo contra os EUA, os jogadores da seleção brasileira fizeram uma roda no centro do campo e rezaram. A Associação Dinamarquesa de Futebol é uma das que não estão satisfeitas com a Fifa e quer posição mais firme. Pede punições para evitar que isso volte a ocorrer.

Com centenas de jogadores africanos, vários países europeus temem que a falta de uma punição por parte da Fifa abra caminho para extremismos religiosos e que o comportamento dos brasileiros seja repetido por muçulmanos que estão em vários clubes da Europa. Tanto a Fifa quanto os europeus concordam que não querem que o futebol se transforme em um palco para disputas religiosas, um tema sensível em várias partes do mundo. Mas, por enquanto, a Fifa não ousa punir o Brasil.

"A religião não tem lugar no futebol", afirmou Jim Stjerne Hansen, diretor da Associação Dinamarquesa. Para ele, a oração promovida pelos brasileiros em campo foi "exagerada". "Misturar religião e esporte daquela maneira foi quase criar um evento religioso em si. Da mesma forma que não podemos deixar a política entrar no futebol, a religião também precisa ficar fora", disse o dirigente ao jornal Politiken, da Dinamarca. À Agência Estado, a entidade confirmou que espera que a Fifa tome "providências" e que busca apoio de outras associações.

As regras da Fifa de fato impedem mensagens políticas ou religiosas em campo. A entidade prevê punições em casos de descumprimento. Por enquanto, a Fifa não tomou nenhuma decisão e insiste que a manifestação religiosa apenas ocorreu após a partida. Essa não é a primeira vez que o tema causa polêmica. Ao fim da Copa do Mundo de 2002, a comemoração do pentacampeonato brasileiro foi repleta de mensagens religiosas.

A Fifa mostrou seu desagrado na época. Mas disse que não teria como impedir a equipe que acabara de se sagrar campeã do mundo de comemorar à sua maneira. A entidade diz que está "monitorando" a situação. E confirma que "alertou a CBF sobre os procedimentos relevantes sobre o assunto". A Fifa alega que, no caso da final da Copa das Confederações, o ato dos brasileiros de se reunir para rezar ocorreu só após o apito final. E as leis apenas falam da situação em jogo.



Dica aos dinamarqueses: ganhem uma Copa e façam sua celebração atéia no campo

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Para não acreditar em Papai Noel



É óbvio que mesmo antes da eleição presidencial, era de notório conhecimento de que havia muitas violações dos direitos civis no Irã. Basta lembrar que este país é um dos líderes mundiais em pena de morte.
Porém, mesmo com todas estas violações, eu achava que o Irã fosse uma semi-democracia, um regime razoavelmente razoável em comparação com as ditaduras árabes sunitas das redondezas. O povo não tinha voz em assuntos como religião e política externa, a cargo do chefe máximo do clero xiita, que controla o Estado. Mas o povo parecia ter ao menos voz nos demais assuntos, ao eleger quem controla o governo. Dentro dos limites impostos pelos aiatolás, chegou haver alternância de poder entre os muito duros e os nem tanto duros. Quem pensava isso até o dia 13 de junho, teve a mesma decepção de uma criança que descobre que Papai Noel não existe. O Irã se comportou como uma republiqueta de bananas a partir de então: eleição opaca, tiros e porretes em manifestantes, prisões, censura etc.

Agora, não é porque caiu um mito que se deve criar outro: o de que a fraude eleitoral foi um fato consumado e que se a eleição tivesse sido honesta, Ahmadinejad teria perdido. A lisura desta eleição certamente deve ser questionada: representantes dos candidatos não tiveram acesso à contagem, não houve divulgação de pesquisas de boca-de-urna logo depois do pleito, conforme acontece em países livres. Isto indica que algumas mutretas podem ter ocorrido sem que ninguém tivesse percebido. Porém, alguns dos argumentos utilizados para defender a teoria de que houve uma fraude monstro capaz de mudar o resultado em 10 milhões de votos são bem fracos. Não precisa ser especialista em Irã para refutá-los, basta ter um pouco de raciocínio crítico:

1. Os votos foram contados rápido demais. No Irã as eleiçoes parlamentares não são simultâneas à presidencial. Portanto, há apenas um papel por eleitor para contar. Não tem motivo para demorar. Na Europa, o voto também é por papel, há países tão populosos quanto o Irã, e a apuração é tão rápida quanto.
2. Em algumas cidades, houve mais votos do que eleitores registrados. No Irã, não é obrigatório um eleitor votar em sua própria zona. Não é impossível que o número de viajantes em uma ou outra cidade seja maior que o de crianças e adolescentes. Esta falta de rigor nas regras tira a credibilidade da eleição do Irã. Mas não prova que os votos a mais nas tais cidades eram necessariamente de fantasmas a favor de Ahmadinejad.
3. Moussavi perdeu em sua província natal. Ora, se isso fosse sinal de fraude, várias eleiçoes no mundo inteiro foram fraudadas.
4. Ahmadinejad venceu em Teerã, onde a população seria mais liberal. Ahmadinejad foi prefeito de Teerã e suas políticas assistenciais pode ter conquistado a população mais pobre. Em Teerã, a vantagem de Ahmadinejad foi menor.
5. Apesar da semelhança da porcentagem de votos em Ahmadinejad em 2005 e 2009, os resultados por província foram diferentes. Durante o governo de Ahmadinejad, o Irã ganhou muito dinheiro com o petróleo caro, e parte deste dinheiro foi para programas sociais. Tais programas podem ter construído novas bases de apoio. O mesmo houve com Lula. Em 2002 e 2006, sua votação foi igual, mas a distribuição regional dos votos foi bem diferente. Em 2002, sua principal base foram as regioes metropolitanas. Os programas sociais fizeram Lula ter muitos votos no interior pobre em 2006.
6. A alta participação tende a favorecer candidatos reformistas. Na reta final da campanha, houve forte mobilização pró-Moussavi. Isto pode ter aumentado também a mobilização realizada por seguidores de Ahmadinejad.
7. Os dois outros candidatos tiveram votação inexpressiva. Quem vê problema nisso até parece que não conhece história de eleiçoes. Quando há polarização entre dois candidatos, os demais são esquecidos. Isto é extremamente normal. Em 2006 no Brasil, ao conversar com pessoas na rua, era possível ver que muita gente tinha simpatia pela Heloísa Helena e pelo Cristóvam Buarque. Mas na hora do vamos ver, ambos tiveram resultados inexpressivos.

Deve ser lembrado também que muitas pesquisas, inclusive uma feita em parceria da BBC com a ABC, apontou antes do pleito que a participação seria alta e que Ahmadinejad venceria na proporção de 2 pra 1.

De qualquer forma, é legítimo os opositores de Ahmadinejad contestarem a legitimidade do pleito, tendo em vista sua falta de transparência.
Eu não tenho nada a ver com comentaristas de blogs de esquerda no Brasil que defendem veladamente Ahmadinejad por achar que ele faz frente ao imperialismo. Pela sua própria biografia, Moussavi está muito longe de ser cordeirinho do ocidente e mesmo se fosse, caberia ao povo iraniano decidir seu líder. Eu estava torcendo para o Moussavi, mas independente de quem fosse o melhor, não dá para negar o óbvio: se houve a fraude houve, se não houve não houve.
Agora, considerar a fraude um fato consumado pode se tornar uma barriga que nem aquela da "pista escorregadia", só que desta vez, em escala internacional.
Como mencionei anteriormente, CNN e BBC se portam de maneira extremamente profissional, mostra a crueldade do regime contra seus opositores como um fato, o que certamente é, mas sempre falam da fraude como uma hipótese. O mesmo não se pode dizer da mídia alemã, que mesmo hoje sendo livre e independente do governo, continua uma fabriqueta de consensos. A rede de televisão ZDF chegou a divulgar como sério o boato de que Ahmadinejad teria ficado em terceiro. A Spiegel fez uma capa entitulada "a rebelião contra os radicais", com uma foto de uma mulher manifestante usando o pano na cabeça e ao fundo, as fotos de Ali Khamenei, Ahmadinejad e ???????? Osama Bin Laden.