domingo, 17 de outubro de 2010

Mensagem aos eleitores de Marina Silva

Não votei em Marina Silva no primeiro turno. Votei em Dilma Roussef. Por concordar mais com o projeto político de Dilma. Não tenho objeções à pessoa de Marina. Durante esta campanha eleitoral, eu sempre discordei da posição dos petistas mais fanáticos, que consideravam Marina Silva uma traidora ou que sua campanha era útil para a direita.
Acredito que os eleitores de Marina Silva têm muitas objeções, algumas delas bastante compreensíveis, à candidata Dilma Roussef e ao governo Lula. Mas certamente não acreditam em clichês propagados por alguns eleitores de José Serra como o de que “o governo Lula é o mais corrupto da história”, “todos os acontecimentos positivos do governo Lula foram iniciados por FHC” ou “o Bolsa Família foi feito para comprar voto de vagabundo”. Quem acredita nisso não teria votado em uma histórica militante do PT, que permaneceu no partido até 2009 e no governo Lula até 2008.
Portanto, não será difícil dialogar com os eleitores de Marina Silva. Respeitando e discutindo as críticas que possam ter à Dilma e à Lula, pretendo demonstrar que aquilo que os eleitores de Marina Silva procuram pode ser mais facilmente encontrado na candidatura de Dilma Roussef do que na de José Serra.
Em primeiro, lugar, obviamente, a questão ambiental. É verdade que a atenção dada pelo governo Lula ao meio-ambiente ficou aquém do esperado. Mas ao menos, os ambientalistas disputaram espaço dentro do governo Lula. O trabalho iniciado por Marina Silva e continuado por Carlos Minc gerou resultados. Como pode ser verificado aqui, o deflorestamento bruto da Amazônia Legal vem apresentando forte declínio desde 2004. Naquele ano, foram desmatados aproximadamente 28 mil quilômetros quadrados. Em 2009 foram desmatados menos de 10 mil.
Em um eventual governo Serra, os ambientalistas teriam espaço muito mais reduzido. A senadora Katia Abreu, aliada de Serra, chamou o ministro Carlos Minc de ecoxiita. Tasso Jereissati, outro aliado de Serra, endossou. E como foi muito bem demonstrado no blog de Idelber Avelar, as áreas das Regiões Norte e Centro-Oeste que apresentaram mais desmatamento foram as áreas que deram mais votos a José Serra. O blogueiro também demonstrou que o PSDB se opôs à Operação Arco de Fogo, que foi fundamental para a redução contínua do desmatamento da Amazônia.
Ainda indiretamente relacionado ao tema, é importante lembrar as ações do governo Lula contra o trabalho escravo. Durante o governo Lula foram retirados seis vezes mais trabalhadores da condição de escravidão do que durante o governo FHC. Durante esta campanha eleitoral, Dilma Roussef assinou um compromisso contra o trabalho escravo.
Em segundo lugar, assim como a própria Marina Silva, seus eleitores também podem ter algumas críticas à política externa do governo Lula. Eu também tenho. Desaprovei completamente as declarações do presidente Lula a respeito dos oposicionistas no Irã. Mas são poucos os líderes de países democráticos que não mantém boas relações com regimes autoritários. Bajular o tirano do Irã é muito ruim, mas a campanha de José Serra é bem pior, ao mobilizar os setores da sociedade que querem trazer as idéias do Irã para nossas terras. Apesar de alguns problemas, a política externa do governo Lula acumulou mais sucessos do que fracassos. Basta comparar a cobertura da imprensa estrangeira com a cobertura da imprensa brasileira ao nosso governo. Os jornais Le Monde e El País consideraram Lula o “homem de 2009”.
A política externa deste governo permitiu diversificar as exportações brasileiras e fortalecer os países em desenvolvimento nas negociações mundiais sobre comércio e finanças.
Em terceiro lugar, é importante comentar a repercussão que sites serristas, logo após o primeiro turno, deram ao tratamento desrespeitoso que alguns dilmistas concederam a Marina Silva antes do primeiro turno. É verdade que em meio a muitas críticas qualificadas, alguns eleitores de Dilma fizeram críticas desqualificadas à candidata verde. Mas cada eleitor tem sua opinião pessoal que muitas vezes diverge daquela de seu candidato. Insultos bem maiores à Marina Silva foram encontrados no campo serrista. Um colunista aliado de Serra há uma década chamou Marina de “santinha da floresta oca”. Em contrapartida, Luís Nassif, um dos mais conhecidos colunistas favoráveis a candidatura de Dilma Roussef, fez um ótimo texto elogioso sobre Marina Silva. O texto foi escrito em 19 de agosto, quando era esperada a vitória de Dilma no primeiro turno.
O próprio José Serra afirmou que Marina Silva e Dilma Roussef são parecidas. Ele não parece preocupado em obter os 10% cativos da candidata verde. Ele parece preocupado apenas em obter os outros 10% de última hora, aqueles que optaram por Marina Silva no primeiro turno simplesmente por rejeitarem Dilma e Serra.
Depois de discutir e rebater muitos supostos motivos para não votar na Dilma, pretendo apontar motivos para votar na Dilma. Um deles é o voto de solidariedade. Gostaria que não apenas quem votou em Marina Silva, mas também quem votou em Plínio ou quem anulou no primeiro turno pensasse nisso.
Para nós da classe média, pouco faz diferença no nosso cotidiano quem é o Presidente da República. Para milhões de brasileiros, que recentemente ultrapassaram a linha de indigência ou a linha de pobreza, o governo Lula fez a diferença, para melhor. Não apenas por causa do Bolsa Família e do Luz para Todos, como também por causa do aumento do salário mínimo e do crescimento da economia. Em solidariedade a essas pessoas, eu recomendo o voto em Dilma Roussef, para manter estas conquistas. São essas pessoas que têm poucos meios para se expressarem e ainda são esculachadas por alguns “cientistas políticos” e por colunistas de baixa qualidade.
E por fim, a questão de gênero. Por muito tempo, considerei pouco relevante o fato de Dilma Roussef ter a possibilidade de ser a primeira mulher a ocupar a cadeira de Presidente do Brasil. O gênero não faz alguém ser melhor nem pior. Jamais gostaria que Yeda Crusius ou Katia Abreu fossem uma ou outra a primeira mulher presidente. Mas como nesta campanha os elementos machistas e retógrados da sociedade brasileira, que sempre existiram, mas estavam adormecidos, subitamente acordaram. Portanto, a eleição de Dilma Roussef teria importância simbólica fundamental.

sábado, 16 de outubro de 2010

Os boatos sobre o auxílio-reclusão

Eu nunca recebi nenhuma corrente de e-mail a respeito do auxílio-reclusão, mas conheço muitas pessoas que receberam. Algumas acharam as mensagens ridículas, outras acreditaram.
Por isso, achei importante divulgar a verdade sobre o benefício.
Nas correntes de spam, havia duas mentiras:
1. Todas as famílias de presidiários recebiam o auxílio-reclusão.
2. Famílias com muitos filhos recebiam grandes quantidades de dinheiro.
O verbete da Wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Aux%C3%ADlio-reclus%C3%A3o explica de forma bastante didática o benefício. E esclarece que:
1. O auxílio-reclusão só é válido se o requerente for contribuinte da previdência social, ou seja, se exercer atividade remunerada regular.
2. Existe um teto do benefício em 810 reais. O benefício não pode ultrapassar este teto, mesmo se o número de dependentes for grande.
Em suma: as famílias dos piores criminosos não recebem o auxílio-reclusão, porque os piores criminosos não contribuem para a Previdência.

Os boatos foram espalhados há algum tempo, portanto, a motivação eleitoreira não é muito direta. Mas pelo teor do texto comentado por quem recebeu, havia intenção de mostrar o governo Lula como protetor dos criminosos. A verdade é que o auxílio-reclusão foi instituído em 1991.

Quem repassou o spam sem pesquisar é apenas um elemento muito bobo. Quem escreveu o texto do spam publicou deliberadamente uma farsa. Informações verdadeiras sobre o auxílio-reclusão são facilmente disponíveis.

domingo, 10 de outubro de 2010

Em 1985, FHC criticava uso de demagogia religiosa em campanha eleitoral

Belo discurso

http://www.youtube.com/watch?v=uyvWXZDlhNY&feature=related

2:45
"A cruz não há de ser usada para obter o voto. O voto é coisa séria. A cruz mais ainda"

3:08
"essa campanha... Eu não imaginava tão áspera, tão cheia de baixeza"

3:50
"Fazem da fé, instrumento de ambição pessoal"

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mitos existentes na comparação entre a era FHC e a era Lula

Eu sei que este assunto não é o mais importante para decidir se o melhor presidente do Brasil seria Dilma Roussef ou José Serra, mas neste clima de campanha eleitoral, muitas informações inverídicas circulam, pela imprensa e pela web.
Portanto, decidi fazer esta postagem para responder a dois mitos difundidos por propagandistas do PSDB, que são os seguintes:
1. O PIB do Brasil cresceu mais durante o governo Lula do que durante o governo FHC porque Lula teve a sorte de pegar uma conjuntura internacional favorável, enquanto FHC pegou muitas crises internacionais
2. Os bons indicadores da economia durante o governo Lula ocorreram porque FHC "colocou a casa em ordem", depois de ter "pegado a casa desarrumada"

Vamos ao primeiro mito.
Como é possível ver na tabela 1, o PIB do Brasil durante os oito anos de FHC (1995-2002) cresceu a uma taxa média geométrica anual de 2,28%, enquanto que a média dos oito anos de Lula (2003-2010) foi de 3,98% (considerando a expectativa modesta de crescimento de 7% em 2010). A diferença de crescimento do PIB mundial não foi muito grande: 3,40% nos oito anos de FHC, 3,82% nos oito anos de Lula.
A tabela 2 mostra que enquanto na era FHC, o crescimento do PIB brasileiro foi equivalente a 67% do crescimento do PIB mundial; na era Lula, o crescimento do PIB brasileiro superou levemente o crescimento do PIB mundial. Portanto, a diferença entre o desempenho da economia brasileira na era FHC e o desempenho da economia brasileira na era Lula não pode ser explicada pelo desempenho da economia mundial.
É importante lembrar também que durante a era Lula, o PIB brasileiro cresceu um pouco mais que o mundial somente por causa do grande diferencial obtido no segundo mandato, quando o Brasil reagiu bem à crise internacional. Durante o primeiro mandato, quando a economia mundial estava em expansão, o PIB do Brasil teve desempenho decepcionante, e seu crescimento correspondeu a apenas 76% do crescimento do PIB mundial. Mas curiosamente, foi nesta época que a grande mídia mais elogiava a política econômica do governo Lula. Palocci era visto como uma divindade. Enquanto isso, a revista Carta Capital, tida como chapa-branca, mostrava que outros países emergentes (incluindo a teimosa Argentina) estavam tendo desempenho econômico bem melhor. Curiosamente, quando o PIB brasileiro passou a crescer consideravelmente mais que o PIB mundial, a grande mídia passou enxergar mais negativamente a política econômica do governo.

Tabela 1: crescimento do PIB nos locais e períodos selecionados (elaboração própria)

Dados obtidos em http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2010/02/weodata/index.aspx

Tabela 2: relação crescimento do PIB brasileiro / crescimento do PIB mundial em períodos selecionados (elaboração própria)

Dados obtidos em http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2010/02/weodata/index.aspx

O gráfico 1 mostra que nos últimos 16 anos, o período de maior crescimento do PIB mundial se deu entre 2004 e 2007, durante a era Lula. Mas o pior momento da economia mundial, 2008-2009, também ocorreu durante a era Lula. O biênio 2001-2002, final da era FHC, foi de estagnação mundial por causa do estouro da bolha acionária das empresas de alta tecnologia nos EUA. Mas o período 1995-2000 não pode ser considerado uma conjuntura internacional desfavorável. É verdade que houve algumas crises cambiais em países emergentes, mas a vulnerabilidade do Brasil a elas estava ligada a políticas econômicas internas (o que será visto a seguir). Paralelamente às crises nos países emergentes nos anos 90, os EUA, o maior parceiro comercial do Brasil na época, vivia o maior período de prosperidade de tempos recentes. Quem tem curiosidade em saber mais sobre este tema, pode ler um texto de Ricardo Carneiro, que mostra que o baixo crescimento do PIB brasileiro ocorrido na era FHC teve pouca relação com os efeitos das crises internacionais.
Outro detalhe que pode ser observado pelo gráfico é o de que nos oito anos de FHC, em apenas um deles, o PIB brasileiro cresceu mais que o mundial: foi 1995, justamente o primeiro ano. Na era Lula, o PIB brasileiro cresceu mais que o mundial em 2004 e em todos os anos do segundo mandato (2007-2010).

Gráfico 1: crescimento do PIB em locais e anos selecionados (elaboração própria)

Dados obtidos em http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2010/02/weodata/index.aspx

Em relação à América Latina, os desempenhos comparativos de Lula e FHC foram semelhantes. O PIB da região cresceu consideravelmente mais entre 2003 e 2010 do que entre 1995 e 2002. Mas em outros países, como a Argentina, o crescimento maior também sucedeu à reversão de políticas neoliberais.


Agora vamos ao segundo mito.
O segundo mito parte de uma verdade: a de que um governo não deve ser avaliado exclusivamente pelos indicadores ocorridos durante o período do próprio governo, porque os indicadores de um governo são influenciados pelas ações de governos anteriores e as ações de um governo influencia indicadores de governos posteriores.
Porém, não é verdade nem que FHC pegou o inferno de governos anteriores, nem que FHC deixou o céu para Lula.
É inegável que a estabilidade de preços proporcionada pelo Plano Real tenha trazido enormes benefícios econômicos e sociais ao Brasil. Mas para atingir a estabilidade maior, foram criadas, algumas vezes de forma desnecessária, instabilidades menores.
Vejamos primeiro às finanças públicas: o setor público brasileiro gerou superávits primários no início dos anos 90. No primeiro mandato de FHC, o superávit primário foi zerado. Só foi reestabelecido, na casa dos 3%, quando o governo foi forçado a fazer isso, por causa da crise cambial de janeiro de 1999.

Gráfico 2: superávit primário do setor público

www.ipea.gov.br

Observando os superávits operacionais, a situação fica ainda pior. Havia um razoável equilíbrio no início dos anos 90. No primeiro mandato de FHC, foram feitos enormes déficits. Isto foi resultado, além da eliminação do superávit primário, do pagamento de juros enormes como resultado da vulnerabilidade do Brasil às crises cambiais de países emergentes.

Gráfico 3: superávit operacional do setor público

www.ipea.gov.br

O descontrole das finanças públicas no primeiro mandato de FHC teve impacto na relação dívida pública/PIB, que era declinante no início dos anos 90 e cresceu acentuadamente de 1995 a 2002, declinando posteriormente.

Gráfico 4: relação dívida pública/PIB em %

www.ipea.gov.br

A política cambial irresponsável do primeiro mandato de FHC, além do impacto causado nas finanças públicas por causa dos juros elevados, gerou danos nas contas extenas, que foram o responsável pela vulnerabilidade às crises internacionais. O saldo comercial, positivo até 1994, tornou-se negativo entre 1995 e 2000. O saldo em transações correntes, em razoável equilíbrio até 1994, tornou-se fortemente negativo posteriormente.
A abertura comercial não explica a deterioração do saldo comercial. Isto porque quatro anos depois do início a redução de tarifas e eliminação das barrerias não tarifárias, o saldo comercial ainda era positivo.

Gráfico 5: saldo comercial e saldo em transações correntes no Brasil em US$

www.ipea.gov.br

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Moralismos seletivos: Serra, celebridades, Tiririca...

1. No debate de candidatos promovido pela TV Globo, José Serra atacou Marina Silva por ela ter permanecido como ministra de Lula mesmo depois do mensalão. Mas a principal cheerleader da campanha de Serra na Internet só saiu do PT dois anos depois do mensalão. Concorreu ao cargo de deputado federal em 2006 pelo PT, já depois do mensalão.

2. Não votei no Netinho, mas a presença de celebridades na política não é uma patologia. Se uma parcela da sociedade se sente mais bem representada por celebridades do que por políticos tradicionais, isto faz parte da democracia. Noto que muita gente que ficou com nojinho da candidatura do pagodeiro acha cool a figura mencionada no tópico anterior. Para essa gente, celebridade só vale se for voltada para o público da sala de estar. Se for voltada para o público da cozinha, a política fica vulgar.

3. Muita gente alertou, com razão, que os votos no Tiririca ajudariam a eleger mensaleiros. Bom, um dos eleitos pelos votos do Tiririca foi um delegado que colocou sua própria carreira no sacrifício para investigar... um dos principais suspeitos de ter colocado dinheiro no mensalão. Portanto, muitas das pessoas que odeiam o partido do mensalão acabaram enxergando um lado positivo no Tiririca, por ter auxiliado alguém que pode esclarecer mais detalhes do mensalão. Ei, agora eu lembrei, muitas destas pessoas citadas também odeiam este mencionado delegado. Mas quem quer ver os mensaleiros punidos não deveria gostar deste delegado? Hmmm, vai ser muito complicado explicar aqui nestas curtas notas. Deixa para depois.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A destruição do mito do "paulista reaça"

Embora as principais candidaturas para a Presidência da República convirjam para o centro desde 2002, quem acompanha debates na web e nas ruas pensa que o Brasil vive clima de intensa polarização, não apenas política, como também regional.

Surgem estereótipos regionalistas estúpidos. Um deles é o do "nordestino vagabundo que vota no PT porque recebe o Bolsa Família". O outro, igualmente estúpido, com sinal trocado, é o da "elite paulista preconceituosa" ou do "paulista reacionário".
Estas eleições ajudaram a afundar este estereótipo por vários motivos:
1. É natural que um candidato a presidente obtenha maioria onde ele foi governador. Mas 59,4% dos eleitores de São Paulo votaram contra José Serra. Em 1989, Collor obteve maioria esmagadora no estado de Alagoas.
2. Plínio teve mais do que 1% dos votos no estado de São Paulo, mas não no Brasil como um todo.
3. O candidato a senador mais votado foi um ex-guerrilheiro. O segundo foi uma feminista. O terceiro foi um artista popular negro. O quarto foi um engajado em ética empresarial e causas ambientais.
4. Somente São Paulo e Rio de Janeiro elegeram deputados do PSOL.
5. Foram eleitos muitos deputados federais de partidos de esquerda. Com a ajuda dos votos em um humorista cearense (ou seja, tem gente que pode ter mal gosto para votar, mas não é preconceituosa).
6. O partido que obteve maior número de cadeiras na Assembléia Legislativa foi o PT, com 24. O PSDB obteve 23.

Uma tendência interessante pode ser observada no mapa eleitoral publicado no Estadão. Em azul claro estão os municípios onde Serra teve maioria simples, em azul escuro onde ele obteve maioria absoluta. Em vermelho claro estão os municípios onde Dilma teve maioria simples, em vermelho escuro onde ela obteve maioria absoluta.
É possível observar que Dilma obteve algumas vitórias no Oeste, em municípios localizados no Vale do Ribeira e no Pontal do Paranapanema, perto da divisa com Paraná e Mato Grosso do Sul. Tradicionalmente, o voto de esquerda em São Paulo esteve concentrado em bairros pobres de municípios grandes e ricos. Principalmente nas regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas, e nos eixos da Anhanguera, da Anchieta e da Dutra. O Oeste, que apesar de ser a parte menos rica do estado, era uma fortaleza conservadora. Esta tendência está sendo revertida.




Obtido em http://www.estadao.com.br/especiais/geografia-do-voto,120705.htm

sábado, 2 de outubro de 2010

Incrível! Um potencial "argumentasso" ainda não foi utilizado!

As eleições são amanhã e ainda não vi nenhum colunista, nenhum ex-cineasta, nenhum acadêmico blockbuster, dizendo:

"No dia 3 outubro de 2010, a Alemanha celebra exatos 20 anos de reunificação, e enquanto isso, os brasileiros vão as urnas para decidirem se querem seguir o caminho da Alemanha Ocidental ou da Alemanha Oriental"

Parece que tentar transformar um debate entre capitalismo com Estado pequeno e capitalismo com Estado grande em um debate entre capitalismo e comunismo virou um argumento obsoleto.
Felizmente!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

De 2000 a 2008, o Datafolha SUPERESTIMOU a votação do PT na véspera

A última vez que a Datafolha cometeu um erro grave ao subestimar a votação em um candidato do PT ocorreu na eleição para governador de São Paulo em 1998. A pesquisa de véspera apontava Paulo Maluf em primeiro com 31%, e em empate técnico, em segundo, Francisco Rossi, Mário Covas e Marta Suplicy, respectivamente com 18%, 17% e 15%. Para evitar um segundo turno entre Maluf e Rossi, alguns simpatizantes do PT deram voto útil em Covas. Depois de apurados os votos, Maluf terminou realmente na frente, Covas foi para o segundo turno com uma pequena vantagem sobre Marta, e Rossi terminou alguns pontos atrás. O voto útil induzido pela pesquisa tirou Marta do segundo turno. Mas foi um simples erro, cometido também pelo Ibope. Muito provavelmente, alguns eleitores indecisos optaram pela Marta na última hora.


Depois disso, a tendência mais comum da Datafolha é superestimar a votação do candidato do PT nas pesquisas realizadas em véspera de eleição. Isto vale para as eleições para prefeito de São Paulo, senador de São Paulo e presidente do Brasil.
A tabela abaixo mostra em vermelho escuro os erros de superestimação dos votos do PT em menos de um ponto percentual, em vermelho claro os erros entre um e dois pontos, e em laranja os erros em mais de dois pontos (este último tipo de erro é superior à margem).

Percentuais de votos válidos em candidatos em eleições selecionadas, de acordo com pesquisas Datafolha divulgadas na véspera e resultados finais divulgados pelo TSE

Fonte: Datafolha e TSE
Nas eleições para prefeito de São Paulo de 2000, 2004 e 2008, a votação da Marta foi superestimada no primeiro e no segundo turno. No primeiro turno de 2004 e 2008, os erros foram bastante acentuados.
Nas eleições para senador de São Paulo, a diferença entre Suplicy e Afif apontada pela pesquisa de véspera foi brutalmente superior à diferença verificada na apuração.
No primeiro turno das eleições para presidente do Brasil de 2002 e de 2006, a votação de Lula foi superestimada. O instituto apontava nas duas vezes a possibilidade de decisão no primeiro turno (em 2002 pela margem), o que acabou não ocorrendo.
Somente na eleição para governador de São Paulo, a superestimação da votação no candidato do PT não ocorre. Em 2002 e 2006, assim como havia ocorrido em 1998, o candidato do PT cresceu significativamente da véspera para o dia da votação. Nas três vezes, pode ter ocorrido o efeito Lula. O eleitor sabia que ia votar em Lula, mas deixou para decidir votar no candidato do PT a governador só no dia.
Os resultados divergentes em relação à pesquisa de véspera e ao resultado oficial podem ter duas causas: mudança de decisão do eleitor na última hora e erro de amostragem. A pesquisa boca de urna estaria imune à primeira fonte de erro. Mas as pesquisas boca de urna do Datafolha de 2000 e 2002 foram mais semelhantes às pesquisas de véspera do que ao resultado final. Portanto, o erro pode estar na escolha da amostra.
Posteriormente, o Datafolha não fez mais pesquisas boca de urna.
Em 2010, as pesquisas do Datafolha apontam vantagem menor para a Dilma do que as pesquisas de outros institutos. Pode ser que o instituto tenha aprendido a coletar amostras que não superestimem a votação no PT.
De qualquer forma, a observação do histórico de pesquisas e resultados eleitorais mostra aos petistas que eles não devem comemorar antes da hora. Como dizia um provérbio chinês do século VI DC, "o jogo só termina quando o juiz apita".